sábado, 24 de outubro de 2009

Entre os monges do Tibete

24 de Outubro de 2007 – Sakya, Tibete
O novo guia, de nome impronunciável, leva-nos ao último mosteiro da lista.
Em Sakya, espera-nos um cenário surpreendentemente diferente. Penetramos na sala de culto, cuja obscuridade é apenas cortada pela fraca luz que vem do exterior e por algumas velas. Todos os lugares estão ocupados por monges de diferentes idades, vestindo robes de cor escarlate e açafrão, que folheiam os livros de orações pousados nos colos. Um monge noviço vai enchendo as suas taças com leite de iaque. Quase no centro da sala, uma enorme mandala em areia colorida, protegida por um cofre de vidro, chama a nossa atenção. É então que os monges começam a recita dos textos sagrados, numa ladainha grave e profunda. De repente fazem-se ouvir o sons harmónicos e ressonantes dos címbalos, trompas telescópicas e dos tambores, acompanhando a liturgia. Sentimos que nos estamos a intrometer em algo sagrado e intimo, mas não nos conseguimos afastar. A atmosfera é solene, pesada, mágica.
Reconcilia-nos com o Tibete que viéramos procurar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Everest aqui tão perto...

23 de Outubro de 2007 - Shigatse, Tibete Uma manhã perdida em Shigatse às voltas com a burocracia chinesa. Temos de renovar todas as autorizações para podermos continuar a circular no Tibete.
Espera-nos mais uma desilusão com etiqueta made in China.
Tal como já acontecera em Lhasa com o mosteiro de Drepung, o governo fechou ao público, sem qualquer explicação, o mosteiro de Rongbuk, no sopé do Everest, cortando, assim, o acesso ao Acampamento Base, a 5,200 m de altitude.
O desafio maior desta viagem ficaria por superar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Big Brother is watching you...

22 de Outubro de 2007 – Lago Yamdrok, Tibete
Partimos de Lhasa esta manhã a caminho de Shigatse. Connosco, o nosso guia, Lobsang.
É um jovem tibetano, de cabelos negros e pele tisnada pelo sol. Foi ele quem nos recebeu no aeroporto e nos colocou ao pescoço o tradiconal khatta – o lenço cerimonial tibetano, de seda branca, que representa a boa-vontade e simboliza a pureza do coração de quem oferece.
Á medida que os dias passam e o vamos conhecendo, percebemos que Lobsang já perdeu a boa-vontade para com os chineses. Aparentemente resignado, mostra-se, no entanto, muito inconformado com a situação política do seu pais. Há raiva e frustração na sua voz quando nos conta como os chineses têm vindo a destruir a cultura e o modo de vida tibetano. Não é raro calar-se abruptamente a meio de uma frase, olhando em redor com medo de ser escutado. Quando nos guia pelos mosteiros, evita parar debaixo das câmaras de vigilância do Big Brother chinês, que agora fazem parte da decoração. Também nós sentimos a tensão e a desconfiança no olhar das pessoas e passamos a referir-nos ao Dalai Lama como “Aquele cujo nome não se pode mencionar”.
Hoje, Lobsang parece-nos ainda mais transtornado. Transpira profusamente e não diz uma palavra durante toda a manhã, nem quando paramos a apreciar o lago sagrado de Yamdrok (de uma indescritível beleza em tons turquesa). Depois do almoço não o voltaríamos a ver. Os solícitos motoristas tentam ajudar, mas não falam nenhuma língua inteligível para nós. Abandonadas numa pequena vila à beira da estrada, vivemos momentos de alguma ansiedade já que Lobsang levara consigo toda a papelada que legitimava a nossa presença no Tibete.
Tudo se resolveu, mas o dia cansativo termina, já tarde, num restaurante em Shigatse, conjecturando sobre o que teria acontecido ao atormentado Lobsang.
Ter-se-ia sentido perseguido e fugiu? Teria sido preso? Até hoje não sabemos porque desapareceu e qual o seu paradeiro.
Fotos: RCurto e MLee

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Debate adiado

21 de Outubro de 2007 - Lhasa, Tibete Chegamos ao Mosteiro de Sera e ficamos desoladas ao descobrir que aos domingos não têm lugar os famosos debates em que os monges estudantes, reunidos no páteo, misturam kung fu e argumentação lógica. Começamos a pensar que a agência chinesa marcou propositadamente a visita para este dia!

Os flocos de neve que começam a cair parecem querer consolar-nos. Percorremos o vasto recinto em silêncio, observando as mantras pintadas nas pedras, um gato sorrateiro, e as inúmeras bandeiras de orações deixadas por peregrinos em locais aparentemente inacessíveis.

O que perdemos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O palácio no monte Potala

20 de Outubro de 2007 – Lhasa, Tibete É com emoção que contemplamos o Potala, tentando abstrair-nos das aberrantes decorações chinesas à sua volta. A antiga residência oficial dos Dalai lama foi convertida em museu. Os chineses cobram bilhetes, exigem que se mostre o passaporte à entrada e, se a hora de sair estipulada não for cumprida (exactamente uma hora depois da passagem pelo portão principal), apresentam represálias ao guia responsável. Mesmo assim, este prodígio arquitectónico de 13 andares continua a ser o principal foco de peregrinação em Lhassa. O segundo é o templo de Jokhang, um dos mais antigos do Tibete. Em ambos, a devoção dos fiéis é comovente, prostrando-se em frente aos templos, alimentando as velas com manteiga de iaque, rezando, murmurando mantras, sorrindo. Contrastando com os adultos, de sorriso fácil, embora tímido, as crianças mostram-se desconfiadas. Como se a natureza as tivesse preparado para a nova condição do país em que nasceram.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Chegamos ao Tibete

19 de Outubro de 2007 – Tsedang, Tibete A noite foi mal dormida. A adaptação à altitude tem destas coisas.
Esta manhã partimos para Lhasa e começamos a sentir o verdadeiro Tibete.
A paisagem estende-se deslumbrante à nossa frente: lagos cristalinos como espelhos ornamentam vastos planaltos de aridez desértica, rodeados pelas altas montanhas dos Himalaias. A imponência da paisagem contrasta com a atmosfera intima e solene que se vive nos mosteiros. O primeiro que visitamos é o de Yongbulakhang. Em todos, grandes ou pequenos, iremos encontrar as mesmas salas de culto, as estátuas de Bhuda em todas as suas manifestações e o cheiro intenso à manteiga de iaque que alimenta as velas.
Foto: RFerreira

domingo, 18 de outubro de 2009

Michael Palin, Dr. House e o Dalai Lama

18 de Outubro de 2007 – Aeroporto de Gonggar, Tibete (II) Uma a uma, a bagagem de mão é aberta e inspeccionada. Não se trocam palavras, apenas gestos mecânicos. Calha-me o oficial mais jovem. Observo-o e pergunto-me se terá família, se alguma vez sorri. Da minha mochila retira um livro. "The Gun Seller, by Hugh Laurie", é o romance policial que trouxe para servir de contraponto a toda a espiritualidade que espero encontrar no Tibete. Na capa está desenhada uma pistola acabada de disparar, com o fumo ainda a sair do cano. O rosto do jovem trai uma emoção. Acho que não teria ficado mais assustado se tivesse encontrado uma arma verdadeira!
De repente, tudo pára no aeroporto. Atrás de mim, uma jovem americana solta um sonoro “Oh, my god!”. Com um gesto que não admite recusa, o oficial manda-me colocar a mala grande em cima do palanque e abri-la. O seu conteúdo é esvaziado, observado e descartado no chão do aeroporto, desde os chinelos de quarto à roupa interior. É então que um embrulho em plástico preto é retirado da mala. “Ai, agora!” exclama Mara, ecoando a minha preocupação. São as compras que fiz no Thamel de Kathmandu: dez DVDs piratas e um livro, ainda por abrir. Os filmes são fiscalizados com desdém, mas o livro merece uma atenção especial. Na capa lê-se “Himalaya, by Michael Palin”.
Mais um gesto e o livro é levado para outra sala. Espero, impotente. Mal consigo conter as lágrimas e a raiva, que tento esconder dos guardas que se juntaram à minha volta. As minhas amigas, longe de mim, à distância de um murmúrio, fazem-me chegar palavras de conforto: “Vá, tem calma!” - “Pensa no que nos vamos rir, quando contarmos isto lá em casa!..." Uma mulher polícia regressa, enfim, com o meu livro aberto nas mãos. Para minha surpresa, aponta para a foto do Dalai Lama, no seu exílio na India. A página é rasgada, perante a minha indignação silenciosa. Já mais tarde, no hotel, folheio, pela primeira vez, o livro que nos confrontou, à chegada, com a dura realidade da ocupação chinesa. E, só então, reparo numa outra foto do líder espiritual tibetano, que escapara à furiosa censura dos guardas. É impossível não nos sentirmos impotentes face à arrogância da China todo-poderosa. Mas consigo sorrir, ao pensar naquela foto proibida do Dalai Lama, que durante uma semana viajou comigo, clandestina, no que resta do Tibete.
Fotos: WorldWideWeb

O tecto do Mundo

18 de Outubro de 2007 – Aeroporto de Gonggar, Tibete (I) Visto do céu, o aeroporto de Gonggar, parece um oásis de civilização no meio de um deserto agreste. Noutra ocasião, talvez a paisagem nos impressionasse, mas acabámos de sobrevoar os Himalaias, vindas de Kathmandu, e a sensação de quase tocar o Everest não será, tão depressa, esquecida. É com emoção que aterramos no Tibete. A viagem; tantas vezes adiada e enfim cumprida! O interior do aeroporto é branco e frio. “O algodão não engana!”, gracejamos e rimos com gosto, apesar do esforço que é respirar a esta altitude. Já com as malas, dirigimo-nos ao controlo de passaportes. Os funcionários têm rostos duros e imperturbáveis. As suas luvas são de um branco imaculado e os seus uniformes militares parecem, como escreveu Michael Palin, “ter sido desenhados especificamente para ficarem grandes de mais." Olham-nos com desprezo e desconfiança e começamos a perceber que entrámos na China. A Mara e a Paula Lee avisam-nos para não as perdermos, nunca, de vista. Já sabem, de viagens anteriores, que a sua ascendência oriental não é bem vista na China. Colocamo-nos em fila, as duas irmãs no meio do grupo. De facto, mais uma vez se confirmam os seus receios. Enquanto que os nossos passaportes não merecem mais do que a vistoria normal, os delas são levados e inspeccionados longe da nossa vista. “Can you stamp the passport, please?”, pedimos, ao constatar que o funcionário não fazia tenção de oficializar a nossa presença ali. “Next”, é a resposta seca que obtemos. Perdemos o primeiro confronto com o autoritarismo chinês. E ainda nem saímos do aeroporto!
Foto: RCurto

sábado, 17 de outubro de 2009

Kathmandu - um outro olhar

O nosso olhar nunca é completo. Há sempre quem esteja ao nosso lado e veja mais além. É o prazer de viajar com os amigos.
"E as cores?As cores foi do que mais me fascinou :-)...dos sahris, das flores que usavam ao pescoço, das "bandeirinhas" com mantras, das vestes dos monges budistas... sentia-se tranquilidade e alegria no ar..."
Comentário de R.Curto (ao post anterior) em memyselfanduall.blogspot.com

Kathmandu em corrupio

17 de Outubro de 2007 – Vale de Kathmandu, Nepal Um dia para visitar o vale de Kathmandu, é a tarefa homérica a que nos obrigam os condicionalismos do itinerário. Em Bhaktapur observamos a magnífica praça medieval; nas Durbar Square de Patan e Kathmandu ficamos fascinadas com a riqueza e o detalhe das cenas de divindades hindus talhadas em portas e janelas. Em Bohdnah tomamos pela primeira vez o pulso ao budismo tibetano, enquanto monges e refugiados recitam mantras e orações em volta da enorme Stupa.
Em Pashupatinah, em vez do cenário dantesco que antecipáramos, observamos a tranquilidade e a reverência do ritual hindu da cremação, nas margens do rio Bagmati.
Fora destes óasis arquitectónicos, a vida quotidiana decorre desorganizada. O trânsito é caótico, a construção desordenada, o leito dos rios transforma-se em lixeira, a pobreza é evidente. As mulheres usam sahri e as crianças vão para a escola de uniforme à inglesa.

Improvisados mercados aqui e ali, lembram-nos que o Nepal é essencialmente um pais rural. Estamos na festa hindu de Dashain or Durga Puja. Autocarros cheios, até no tejadilho, ajudam à migração de milhares de pessoas que deixam Kathmandu em direcção às suas terras para celebrarem, em família, os 9 dias de culto à deusa Durga. “Temos de cá voltar com mais calma” é o pensamento que partilhamos ao contemplar, cansadas, o magnífico pôr-do-sol sobre os Himalaias, na companhia de centenas de macacos saltitantes que do Templo de Swayambhunath fizeram o seu lar.

Fotos: RCurto

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

One Night in Bangkok

15 de Outubro de 2007 - Bangkok, Tailândia
“One night in Bangkok and the world's your oyster The bars are temples but the pearls ain't free You'll find a god in every golden cloister A little flesh, a little history I can feel an angel sliding up to me” sung by Murray Head
Bangkok é a cidade onde tudo se vende e tudo se compra ..... por uma pechincha. E estamos dispostas a prová-lo! A manhã foi passada no mercado flutuante, a tarde num grande centro comercial moderno e à noite rumamos ao mercado nocturno do Patpong, claro! Nenhuma visita à cidade ficaria completa sem isso. O Patpong, situa-se no coração de Bangkok, e orgulha-se de ter a vida nocturna mais vibrante da capital. Lojas, restaurantes e casas de massagens acotovelam-se por entre prédios gigantes que abrigam hotéis de 5 estrelas e centenas de bares. Discretamente localizado no meio da agitação, numa rua estreita e obscura, o mercado nocturno é o paraíso da contrafacção. Vestidos design, material de desporto, relógios, DVDs com os últimos êxitos de Hollywood e Bollywood, jóias .... tudo o que se possa imaginar, a preços que desafiam o regateador mais hábil. A rua é ladeada por inúmeras casas de diversão nocturna que mantêm o distrito fiel às suas origens hedonistas de zona R&R (rest and recreation) para oficiais e soldados americanos que combatiam no Vietname. São bares minúsculos. Pelas portas entreabertas, vislumbramos algumas jovens orientais (demasiado jovens, talvez), com reduzidas vestes cravadas de lantejolas. Movem-se insinuantes, dançando ou servindo bebidas. Cá fora, os porteiros exibem aos turistas que passam, menus repletos de cocktails exóticos e de espectáculos com nomes não menos sugestivos. Um grupo de jovens americanos barulhentos aproxima-se. “What is this one: pussy ping-pong?” - pergunta um deles, com grande entusiasmo. Aproximamo-nos para ouvir a explicação e ficamos estupefactas ao pensar no malabarismo necessário à realização da proeza descrita!! A curiosidade tenta-nos a ficar, mas, é preciso procurar um restaurante onde comemorar o aniversário da Rosa. A missão revela-se estranhamente impossível. Os bares e o mercado estão abertos até de madrugada, mas todos os restaurantes estão fechados ou a fechar. O único sítio onde conseguimos jantar, tem à porta uma figura familiar. De sorriso acolhedor e as mãos unidas num gesto de cumprimento, recorda-nos que amanhã partiremos para o Nepal. “Namaste!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mercado Flutuante

15 de Outubro de 2007 - Bangkok, Tailândia
Esquecemos o cansaço e o jet lag e partimos em direcção ao mercado flutuante. São 7 da manhã e o calor sufocante já é insuportável. Os nossos sentidos despertam perante o cenário que se nos apresenta. Dezenas de canoas de madeira preenchem as margens de um estreito canal. Algumas são autênticas cozinhas improvisadas, onde mulheres, usando o tradicional chapéu de palha, preparam toda a espécie de iguarias ou apregoam fruta e legumes frescos. Na margem há centenas de bancadinhas abarrotando com o artesanato local e os domadores de cobras apelam à coragem dos mais afoitos. Tudo para turista ver e comprar por uma pechincha. Mergulhamos na miríade de cores, aromas, sabores. E porque não? Estamos de férias!!!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Foi há dois anos...

... que partimos para o oriente.
Desde o exotismo consumista de Bangkok, à espiritualidade resistente do Tibet, passando pelo misticismo tolerante de Kathmandu; uma viagem que surpreendeu pela diversidade. No Nepal encontrámos um pais onde budismo e hinduísmo convivem em perfeita harmonia. E isso sente-se no espírito das pessoas e no charme da arquitectura.
No Tibet sentimos de perto os efeitos da repressão chinesa, mas saímos convictas de que a cultura tibetana, espelhada em todos os aspectos da vida quotidiana, embebida de uma espiritualidade profunda, não será facilmente escamoteada.
Foto - MLee

domingo, 4 de outubro de 2009

Regresso a casa

Antes do voo de regresso a Lisboa, talvez um saltinho a Amsterdão.

sábado, 3 de outubro de 2009

Zanzibar

Queimar os últimos cartuchos e embalar os souvenirs, antes do regresso a casa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Zanzibar

Vamos tentar visitar o Parque Nacional de Jozani, para vermos de perto os macacos Red Colobus, endémicos de Zanzibar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Zanzibar

"This is the finest place I have known in all of Africa.... an illusive place where nothing is as it seems..... I'm mesmerised" Dr. David Livingstone, Zanzibar 1866