A caminho do Lago Manyara paramos no povoado de Mto-wa-Mbu, para verificarmos o estado dos pneus. A rua principal é larga e flanqueada de fundas valetas, para lá das quais há vida, movimento e animação: homens que bebem cerveja de banana à porta de barracas , maasais que passam, enfeitados dos pés ao pescoço, e bancas onde se vendem frutas aromáticas e cangas coloridas.
Mto-wa-Mbu significa “rio dos mosquitos” na língua suahili.
Não vemos nem rio, nem mosquitos, mas somos confrontadas com um enxame de vendedores ambulantes que lutam entre si pela nossa atenção, gritando: “Buy from me! Support me, I’m bankrupt!”…
Apenas um resiste ao nosso desinteresse. É obvio que já não pretende vender, mas sim conversar.
- Call me Mr. Cheap, diz ele num tom de voz arrastado que me faz pensar que esteve a beber.
Bombardeia-me com perguntas sobre Portugal e o resto da Europa. Diz que já esteve em Paris, com a namorada que é francesa, branca e tem 23 anos, mas ... é gorda, confessa, encolhendo os ombros.
É ela quem lhe paga os estudos. Já me apercebi de que estas histórias não são raras por estas bandas, mas Mr. Cheap não me quer explicar como se conheceram nem o motivo porque é a namorada que o sustenta. Em vez disso, conta-me que o irmão estuda no Michigan. É obvio que o admira, mas não quer ir ter com ele aos Estados Unidos. Prefere ir morar para a Hungria....
Estou perplexa, mas o meu jovem interlocutor não me dá tempo para pensar.
Pergunta-me quantas línguas falo e trocamos algumas palavras soltas em alemão e francês. Quando lhe falo em português, reconhece termos do espanhol e fica muito orgulhoso.
- I can talk to you. You teach me things...
Não percebo se o cumprimento é sincero ou se Mr. Cheap está à procura de outra patrocinadora, mas não resisto em continuar a conversa.
Ainda descubro que tem 17 anos e que o pai é guerreiro maasai, antes de ele virar o feitiço e tomar conta da conversa. É de uma astúcia irritante e parece saber sempre quando estou a mentir:
- What is your profession?
- I don’t have a job.
- Then how can you travel?…
De facto….
- How many children?
- None.
- You don’t have a husband?!!!
Credo!!... Parece o meu pai....
Recomponho-me e tento ser engraçada:
- I am waiting for a rich man to support me, so I don’t have to work …
Acho que não percebeu a brincadeira, mas sinto que subi na sua consideração. No meio de tanta pobreza, o viver de expedientes é comum e até apreciado.
Pergunta-me a idade. Minto de novo...
- 42.
- You seem 35!
Ufa.... vá lá! - penso, mas não perco pela demora:
- In Tanzania, you should have 3 daughters by now...
E termina, em jeito de consolo:
- But I like you!
Fotos: MLee e RFerreira