“This is Suleman. He will be our monkey for today”, diz Abraham, apontando para um rapaz alto, magro, de pele escura e brilhante.
Considerei-o durante alguns segundos, tentando abstrair-me do comentário grosseiro do nosso guia. Era muito jovem (14 anos, soube mais tarde) e vestia jeans brancos e uma t-shirt amarela dos Led Zeppelin.
Suleman acompanhou-nos durante toda a visita à plantação, sempre num silêncio respeitoso e tímido. A sua função era a de colher espécimes de especiarias e frutos. Colocava-as nas cornucópias que cada uma de nós levava nas mãos em jeito de cesto de compras, e que ele fizera a partir de folhas de bananeira.
Este pequeno objecto era apenas uma amostra do que as suas jovens mãos conseguiam extrair dos recursos que tinha à volta. Antes de a visita terminar, o seu talento produzira óculos (ramas de ananás), colares (folhas e flores de mandioca), pulseiras, chapéus e ainda os saquinhos onde colocámos as especiarias vendidas na improvisada jungle boutique.
Este pequeno objecto era apenas uma amostra do que as suas jovens mãos conseguiam extrair dos recursos que tinha à volta. Antes de a visita terminar, o seu talento produzira óculos (ramas de ananás), colares (folhas e flores de mandioca), pulseiras, chapéus e ainda os saquinhos onde colocámos as especiarias vendidas na improvisada jungle boutique.
Calhou ser ele a escoltar-me de volta ao Jeep onde fui buscar mais rebuçados para a pequenada que por ali andava. No regresso, perguntou-me:
- Quantas línguas falas?
Respondi-lhe.
– E tu?, continuei.
- Inglês, francês, alemão, espanhol, italiano e um bocadinho de holandês, disse orgulhoso.
- Quem te ensinou isso tudo?!!
- Os turistas.
- E, não vais à escola?
Encolhe os ombros:
- Hoje não há….
No fim da visita, cabe-lhe a ele cortar os bocadinhos de fruta que nos dão a provar. Com um olhar de desafio, Sule apresenta cada fruta nova numa língua diferente. Vou-lhe respondendo “muito bem” na língua apropriada e, de repente, é como se estivesse de volta a casa a ensinar a minha sobrinha.
Estou sozinha à espera que o resto das meninas acabe as compras.
Sule senta-se ao meu lado e, continuando ocupado a tecer uma folha de bananeira, pergunta, baixinho:
Sule senta-se ao meu lado e, continuando ocupado a tecer uma folha de bananeira, pergunta, baixinho:
- Mama, siete contenta?
A pergunta deixa-me desconcertada. Em suaíli a palavra “mama” significa senhora e não mãe, mas foi dita com um tal carinho, que me emocionei.
De facto, este rapaz poderia bem ser meu filho...
Zanzibar, 2009