E chego finalmente ao último post sobre a Tanzânia. Mais uma história. Mais um momento…. O mais alto de uma viagem cheia de pontos altos. O mais difícil de descrever por ter sido o melhor, o mais espontâneo e o mais autêntico.
Por isso, segurem-se que este vai ser longo….!
A noite começou com o convite do dono do resort para irmos à aldeia próxima assistir aos festejos do final do Ramadão. Ainda hesitámos, divididas entre a curiosidade e a apreensão face ao que iríamos encontrar. Ole seria o nosso guia e protector.
Partimos a pé pela estrada poeirenta e de piso irregular. Os outros maasai do resort acompanham-nos durante parte do caminho. A lua está de tal maneira luminosa que faria inveja a qualquer candeeiro e não temos dificuldade em ver onde pomos os pés. Caminhamos sem pressa. O tempo está ameno e temos 2 Km pela frente. Vamo-nos cruzando com grupos de pessoas que regressam da festa. É um espectáculo estranho, este que protagonizamos: 4 mzungus caminhando na estrada, escoltadas por guerreiros. ML pergunta-me:
- Esta é a melhor parte da viagem, não é Rutix? Vais ter muito que escrever…!
De facto, penso, para escrever é preciso viver….
Os outros maasai depressa se cansam do nosso ritmo lento e, apressando o passo desaparecem na noite. Na orla da vila fazemos um desvio e entramos no recinto da feira, depois de termos pago 1,000 shellings cada uma e recebido em troca uma carimbadela na mão. Vamos caminhando lentamente por entre os jovens que dançam, namoram, fumam, conversam, bebem e olham para nós com curiosidade. Na pista de dança, Ole explica que a música que ouvimos é taraban, típica de Zanzibar. É difícil não deixar o corpo mover-se ao som deste ritmo africano com matizes asiáticas. Fazemos uma roda e ensaiamos uns passos de dança. Ás tantas, reparo na presença de alguém que se movimenta atrás de mim.
- Tens uma sombra, troça ML.
Pois….
Luto entre a vontade de me virar e dançar como deve ser e o sinal errado que isso poderia transmitir. Mesmo assim, tento virar-me, mas a sombra acompanha o meu movimento de maneira que nunca lhe consigo ver a cara. E, assim, continuamos a dançar, sob o olhar atento do nosso guarda-costas e o sorriso matreiro das minhas companheiras.
Terminada a música vamos até ao bar. A sombra segue-me e apresenta-se. Um nome tão impronunciável para mim como o meu o foi para ele. Num inglês alcoolizado diz “we danced together just now”. Bom, “together” não seria o termo que usaria, mas …
Deixamos o bar e descemos as escadas de madeira que levam à praia. O reflexo da lua na água turquesa e nas areias finas proporciona uma luminosidade leitosa e mística. Sinto-me em estado de graça!
Muhipiti sugere que tiremos uma foto. Como não trouxemos máquina a única opção é o fotógrafo local que de uma cabana gasta criou um estúdio improvisado. Entramos e tiramos duas fotos com o nosso jovem maasai, contra cenários de uma piroseira antiquada. Bizarro, mas muito divertido!
Voltamos à praia e sentamo-nos na areia, ao pé do mar. Os acordes da discoteca chegam até nós e há casais que dançam; o rapaz movendo-se nas costas da rapariga. Ah!... Então é assim que se dança por estas paragens!!!...
O ambiente é mágico e descontraído e faz-me recordar as palavras de Abraham no dia da nossa chegada: “Everybody is happy in Zanzibar!”
Debatemos se ficamos mais um pouco ou se está na hora de quebrar o encantamento e regressar. Passa da meia-noite, mas a atmosfera é irresistível e não estamos ansiosas por percorrer a pé os 2 Km que nos separam do resort.
Resignadas, abandonamos o recinto ao som das músicas de DJ Snake, jovem que Ole nos garante ser muito famoso neste cantinho do mundo.
Fazemo-nos à estrada. Não andamos mais de 10 metros até ouvirmos barulho de motor atrás de nós.
- It´s a truck. Not good for us, diz Ole.
De facto, trata-se de uma carrinha de caixa aberta. Antes de Ole ter tempo de mandar avançar o condutor já ML pôs o pé no pneu e subiu para a caixa. Subimos todas, seguidas por um incrédulo Ole. Foi o melhor trajecto da minha vida! Tal como Elsa Martinelli em Hatari …. mas sem as quedas….! Seguramo-nos os 5 à grelha da cabine e lá seguimos com a brisa amena da noite acariciando os nossos rostos sorridentes. Olho para Ole e pergunto-me o que pensará destas 4 portuguesas loucas e já com boa idade para terem juízo…. Impagável é também a expressão no rosto dos guardas maasai quando abrem o portão do resort e nos vêem descer do camião!
Despedimo-nos de Ole e, quando nos dirigimos para a nossa villa, o gerador estoira e a lua foi a única testemunha do nosso mergulho nocturno na piscina privada.
Everybody is happy in Zanzibar!!!!