quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dr. Livingstone, I presume...?!


Adoro esta frase!
Gosto de imaginar o jornalista H.M. Stanley a dizê-la, com um perfeito sotaque britânico, ao encontrar David Livingstone no coração da selva africana.
Repito a frase na minha mente, apurando o sotaque, acertando o ritmo das palavras com o dos meus passos enquanto percorro as ruas de Stone Town, preparando-me para o momento em que encontrarei o missionário escocês.
Não o próprio (obviamente!), mas o espírito do seu legado.
David Livingstone é mais conhecido pelas explorações que realizou na África Continental, mas muitas das suas expedições começaram ou terminaram em Zanzibar.

A rua estreita desagua numa pequena praça de forma irregular. Destacam-se dois edifícios altos: uma igreja anglicana e uma mesquita. Ao centro, uma árvore milenar.
Neste local existiu o maior mercado de escravos de Zanzibar.
Descemos às antigas catacumbas, hoje convertidas em museu, onde eram mantidos mais de 75 homens e mulheres, sem luz, sem sanitários e com muito pouca comida. As doenças proliferavam por entre as paredes de pedra que fortificam este espaço exíguo e de tectos baixos. Os poucos que sobreviviam a este inferno eram vendidos e transportados para a Europa e Estados Unidos, condenados a um purgatório de trabalhos forçados.
Atravessamos a praça e entramos na igreja. Conta-nos o guia que a pia baptismal foi colocada no sítio onde eram mortas as crianças escravas cujas mães tinham sido vendidas. O mármore do chão tem tons rosáceos, espelho do sangue inocente aí derramado. No entanto, o simbolismo redentor pretendido não teve eco na população de Stone Town do século XIX, princípios do Sec. XX, que se recusava a trazer as suas crianças para serem baptizadas num local de tão nefasta memória.
David Livingstone teve um papel decisivo na abolição da escravatura neste continente e,  polémicas à parte (Livingstone terá utilizado mão-de-obra escrava nas suas expedições), Zanzibar recorda-o com gratidão.
Morreu na Zâmbia em 1873. No altar da igreja onde estamos há um cruxifixo de madeira, esculpido a partir do tronco da árvore debaixo da qual o coração de Livingstone foi enterrado.

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