sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Abraham no Pais das Especiarias


Fomos descobrir porque é que Zanzibar é conhecida como a “Spice Island”.

A 20 Km de Stone Town, ao fundo de uma estrada de terra batida, fica a plantação que vamos visitar. Altos coqueiros e bananeiras centenárias fornecem sombra a plantas e árvores de todas as espécies e a cabanas de adobe, à volta das quais algumas galinhas debicam o chão vermelho.

Connosco está Abraham, o nosso guia desde a chegada. Tem 37 anos e é com orgulho que tem escoltado estas quatro beldades (ainda que seja eu a dizê-lo) pela sua ilha. Creio que se sente um dos sultões polígamos que por vários séculos governaram Zanzibar.
É simpático, mas tem um sentido de humor um pouco … digamos …. apatetado. Já nos temos fartado de rir com algumas das suas tiradas. Lembro-me, por exemplo, de me ter dito que gostava de casar-se com uma mulher branca, mas que a mãe não aprovaria, pois as brancas são muito refilonas…. Ou daquela vez que depois de nos ter perguntado a que horas queríamos começar a excursão do dia seguinte e de termos respondido que às 10, afirmou que tínhamos mesmo de sair às 9h ou não teríamos tempo de ver tudo!!!....
Mas, hoje Abraham está muito concentrado no seu papel de professor. Diz que vai testar os nossos conhecimentos sobre o mundo vegetal que nos rodeia.
- What is this plant?, pergunta, apelando à nossa visão, tacto e olfacto.
Todas nós já visitámos plantações semelhantes a esta noutras partes do mundo e saímo-nos na perfeição no que toca à baunilha, pimenta, café, noz-moscada, anis, mandioca, gengibre, jaca e citronella.
No entanto, há espécies que nunca víramos, como as árvores do quinino e do iodo ou a planta de cujo pó as zanzibaritas extraem o baton. Também desconhecíamos (pelo menos eu) que o cravinho nasce numa árvore; que da árvore da canela se extrai a essência do Vick vapour rub (lembram-se?), e que os vários tipos de pimenta se obtêm a partir do mesmo bago.
O corpo já roliço do nosso sultão ficou ainda mais inchado quando lhe pedimos para repetir a explicação para que o pudéssemos filmar. Com uma jaca na mão, em jeito de microfone, e lançando olhares furtivos aos outros guias que o observavam trocistas, Abraham lá foi debitando:
“A pimenta fica verde se o bago for seco à sombra e preta se seco ao sol. A pimenta branca resulta de um bago demolhado, pelado e seco à sombra e a vermelha de um bago demolhado e seco ao sol.”
Para o fim, como pièce de résistance, ficou a subida ao coqueiro. Um rapaz com cerca de 18 anos começa a subir com a ajuda de apenas uma corda onde apoia os pés. O resto é pura força muscular, paixão e anos de prática. Os miúdos começam a subir aos coqueiros desde os 4 anos e param aos 25, idade a partir da qual se torna mais difícil sarar as fracturas frequentes.
Abraham parece um pouco perturbado com o nosso entusiasmo perante tal espectáculo (que já chegou ao Youtube).
- Oh, he is just showing-off… - murmura, amuado, enquanto a voz do rapaz faz ecoar pela selva de especiarias a tradicional canção “Jambo Bwana”.


Fotos: MLee e Muhipiti. Zanzibar, 2009

2 comentários:

  1. O que afinal descobrimos que nasce nas arvores...eu também aprendi bastante nessa visita!

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  2. voce tem umas sementes para enviar-me??????????????

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