quinta-feira, 10 de abril de 2014

Conduzindo um trenó de cães pelos trilhos nevados da floresta.

Casaco por abotoar e o segundo par de luvas ainda por calçar, saio do autocarro insensível ao frio quase glaciar que faz lá fora.

Corro em direcção a eles. Uns são castanhos e destacam-se na paisagem; os outros, brancos, confundem-se com ela.
Estão tranquilos, os huskies; mais calados do que tinha imaginado. Umas manchinhas amarelas na neve dizem-me que já estão ali há algum tempo, presos dois a dois.
Os seus olhos verdes ou azuis, por vezes um de cada cor, são frios e vazios. Intimidam e fazem hesitar a aproximação. Mas depois, ao primeiro toque, ao primeiro mimo, derretem-se e rendem-se como a neve aos raios de sol.
E querem mais. E atropelam-se para chegar a nós.
Mas é à visão do tratador que a sua verdadeira natureza se revela. Afervoram-se, uivam, escavam o chão gelado enquanto o arame a que estão presos é atrelado ao trenó. Não escondem a vontade de começar a correr.
 
Este entusiasmo é um eco do meu, que há muito sonhava com a aventura do mushing. Conduzir um trenó de cães pelos trilhos nevados da floresta da Lapónia.
No entanto, a explicação dos procedimentos faz-me temer o pior. Cada trenó leva duas pessoas e é puxado por uma equipa de cinco cães. Ok. Devemos travar nas descidas e correr nas subidas para não sobrecarregar os cães. Ok. Mas, o que devemos fazer nas curvas? Se queremos virar para a esquerda, inclinamos o corpo para a esquerda? Ou é ao contrário? Os latidos dos cães impacientes abafam as últimas explicações do guia que, entretanto, já se afasta. Desastrada como sou, a inquietação começa a instalar-se.
 
Não há tempo para medos. C’est parti!
 
Os cães lançam-se desenfreados. O seu entusiasmo é alucinante!
Mesmo assim, o cortejo avança a pouca velocidade, seguindo o ritmo mais lento do trenó que vai na dianteira, para desespero das equipas mais atrás. Tentam ultrapassar-se umas às outras, indiferentes à estreiteza do caminho.
 
Tuli, Vaera e Nilla são os cães que lideram a minha equipa. Eu e a RCC vamo-nos revezando na condução, encantadas com a paisagem, lutando contra o frio, trepidando com uma emoção quase infantil.
Numa curva mais rápida e apertada, RCC perde o controlo do trenó que nos entorna na neve alta e fofa. Após um compasso de espera em que nos ajudam a por o trenó novamente operacional, é a minha vez de assumir a condução.
E que sorte temos! Durante o tempo em que estivéramos paradas, o grupo da frente destacara-se o suficiente para permitir que a última parte do trajecto fosse feita sem entraves. Com a adrenalina, a minha cabeça deixa de pensar e o meu corpo vai-se adaptando instintivamente aos contornos do trilho, inclinando-se correctamente ora para a esquerda ora para a direita.
 
Em grande aceleração, de facto e de espírito, chegamos ao destino.
 
Soube a pouco! Quero mais!! 
 
Fotos: RCC e MMP. Lapónia, Fevereiro de 2013

5 comentários:

  1. Oh! Aquela paisagem, a tranquilidade e ao mesmo tempo aquela corrida entusiasmada dos caes. Foi mesmo bom. Tb quero mais :-)

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  2. Também quero sentir isso que Vocês sentiram, talvez eu não o consiga porque não sou Vocês, mas à minha maneira viveria essa aventura, a adrenalina a latejar na minha corrente sanguínea nas curvas apertadas, nas mudanças de direcção... E no branco da neve as marcas das pegadas dos cães, do trenó e dos pézinhos que dão uma ajuda...

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  3. Muhipiti tu senterias tudo isso e tudo o mais!! O teu coração é GIGANTE!!
    Camachinho das letras, é bom ter-te de volta ;p

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  4. Nossa! Fiquei com vontade de andar nesse trenó deve ser uma sensação muito boa, cheia de adrenalina. Adoro animais e esses cães são lindos de mais.
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  5. A raça destes cães são muito lindas. Ainda pretendo viajar para um lugar gelado como este e ter a experiência de andar no trenó.

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