Casaco por
abotoar e o segundo par de luvas ainda por calçar, saio do autocarro insensível
ao frio quase glaciar que faz lá fora.
Corro em direcção
a eles. Uns são castanhos e destacam-se na paisagem; os outros, brancos, confundem-se
com ela.
Estão tranquilos,
os huskies; mais calados do que tinha imaginado.
Umas manchinhas amarelas na neve dizem-me que já estão ali há algum tempo, presos
dois a dois.
Os seus olhos
verdes ou azuis, por vezes um de cada cor, são frios e vazios. Intimidam e fazem
hesitar a aproximação. Mas depois, ao primeiro toque, ao primeiro mimo,
derretem-se e rendem-se como a neve aos raios de sol.
E querem mais. E
atropelam-se para chegar a nós.
Mas é à visão do
tratador que a sua verdadeira natureza se revela. Afervoram-se, uivam, escavam
o chão gelado enquanto o arame a que estão presos é atrelado ao trenó.
Não escondem a vontade de começar a correr.
Este entusiasmo é
um eco do meu, que há muito sonhava com a aventura do mushing. Conduzir um trenó de
cães pelos trilhos nevados da floresta da Lapónia.
No entanto, a explicação dos procedimentos faz-me
temer o pior. Cada trenó leva duas pessoas e é puxado por uma equipa de cinco
cães. Ok. Devemos travar nas descidas e correr nas subidas para não
sobrecarregar os cães. Ok. Mas, o que devemos fazer nas curvas? Se queremos
virar para a esquerda, inclinamos o corpo para a esquerda? Ou é ao contrário?
Os latidos dos cães impacientes abafam as últimas explicações do guia que,
entretanto, já se afasta. Desastrada como sou, a inquietação começa a
instalar-se.
Não há tempo para
medos. C’est parti!
Os cães lançam-se
desenfreados. O seu entusiasmo é alucinante!
Mesmo assim, o
cortejo avança a pouca velocidade, seguindo o ritmo mais lento do trenó que vai
na dianteira, para desespero das equipas mais atrás. Tentam ultrapassar-se umas
às outras, indiferentes à estreiteza do caminho.
Tuli, Vaera e Nilla
são os cães que lideram a minha equipa. Eu e a RCC vamo-nos revezando na
condução, encantadas com a paisagem, lutando contra o frio, trepidando com uma
emoção quase infantil.
Numa curva mais
rápida e apertada, RCC perde o controlo do trenó que nos entorna na neve alta e
fofa. Após um compasso de espera em que nos ajudam a por o trenó novamente operacional,
é a minha vez de assumir a condução.
E que sorte temos!
Durante o tempo em que estivéramos paradas, o grupo da frente destacara-se o
suficiente para permitir que a última parte do trajecto fosse feita sem
entraves. Com a adrenalina, a minha cabeça deixa de pensar e o meu corpo
vai-se adaptando instintivamente aos contornos do trilho, inclinando-se
correctamente ora para a esquerda ora para a direita.
Em grande aceleração,
de facto e de espírito, chegamos ao destino.
Soube a pouco! Quero
mais!!
Fotos: RCC e MMP. Lapónia, Fevereiro de 2013