quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Adivinhem quanto custa o jantar...!

Há um considerável distanciamento entre os momentos que vivemos em viagem e o que deles recordamos mais tarde.

Houve um jantar em Stone Town a que sempre nos referimos, na brincadeira, como "aquele em que fomos valentemente “roubadas”". A pedido de algumas senhoras, resolvi escrever sobre isso.
O texto original começava assim:
“Quando Fisherman George nos apresentou a conta ficámos abismadas. Tão caro?!!”

Tinha ficado com a ideia de que consumíramos apenas duas espetadas e uma coca-cola entre as quatro e que pagáramos por isso o nosso peso em ouro.

Assim, preparava-me para demonstrar que não tínhamos pago apenas o jantar, mas todo o ambiente em que a refeição decorrera …. e que isso não tinha preço.

A ideia era descrever a atmosfera que se vivia nessa noite nos Forodhani Gardens: o céu estrelado e a lua cheia; as bancadas de comida no centro do jardim, iluminadas apenas por candeeiros a petróleo; os homens, mulheres e crianças de vestes domingueiras, comendo em pratos de plástico, sentados em mantas; o ambiente de Pic nic nocturno em relvados impecavelmente tratados, sem que se visse lixo no chão.
Depois descreveria o pitoresco Fisherman George que nos cativou para a sua banca, apregoando: “Come sister, you eat now, you pay later” e a forma principesca como os seus empregados nos escoltaram para um local tranquilo e nos iam servindo solicitamente.
Por fim falaria da conversa que tive com um zanzibarita enorme, de jalaba branca e cofió dourado, que me explicou que Portugal em swahili se diz Ureno (literalmente “o reino”, já que os primeiros portugueses aqui chegados diziam que vinham do Reino de Portugal).

Bom! Tudo isto para justificar os TZN 52,000.00 que acabámos por pagar.

Foi então que, para que o registo ficasse completo, pedi a PL que me fornecesse a ementa dessa noite. E fiquei desolada! Afinal o jantar não tinha sido tão parco quanto me lembrava e senti a minha teoria da “compensação” a ir por água abaixo.

Pois, julgue o leitor, sabendo que o equivalente em euros daquele número astronómico é … 27.

Ementa:
2 bocas de sapateira
1 espetada de 4 camarões
1 espetada de lombo de lagosta simples
1 espetada de lombo de lagosta tikka massala
1 pratinho de batata frita + 2 de oferta a um grupo de crianças
1 nan com côco
1 nan com alho
1 coca-cola pequena
1 água 30cl
1 copo pequeno cana açúcar


Foto: MLee e Muhipiti. Stone Town, Zanzibar. 2009

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Intermezzo II


E pronto, lá deixei o blogue às moscas durante mais um mês. Lá se foram as boas intenções de escrever um post por semana.

Não me apetece escrever!
Esta ideia de juntar palavras e enviá-las para o buraco negro e vazio do cyber-espaço, às vezes, parece-me idiota e inútil.
Valerá o esforço? Hoje até do Pessoa duvido …
Será do calor?
Talvez seja do calor, mas só me apetecia estar deitada nesta espreguiçadeira áspera e bichosa. Sim, hoje apetecia-me estar numa praia!!!! (NESTA praia. Não em qualquer outra. O desespero ainda não me deu para querer estar no Algarve ou na Costa da Caparica!)
Será das incertezas que pairam sobre mim neste momento, indiferentes ao meu esforço para ignorá-las?
Será da falta de férias? De estar enfiada numa cave, sem ver a luz do dia, a cumprir uma sentença interminável pelo crime de …. sei lá…. de auto-infidelidade?

Férias.....!

Há dias fui tratar do visto para a próxima viagem. Estava calor e as ventoinhas espalhavam alguns murmúrios em hindi pela pequena sala da embaixada. Senti-me mais perto. Como se os três meses que faltam fossem voar, impulsionados por uma ventoinha mágica.

3 MESES  - Arrrgghhhhh!!!!

Bem, digam o que disserem, pelo menos hoje, valeu o esforço de mandar palavras para o vazio. Mesmo que se percam no cyber-lixo, eu já me sinto melhor.

Esqueçam a acidez do que está para cima e leiam apenas:
 “Hoje está calor. A minha mente viaja para locais paradisíacos. Promete voltar em breve com mais histórias de momentos (bem) passados.”

Foto: Muhipiti. Page, Zanzibar. 2009