terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Say it again, Paul...!

“Travel is glamorous only in retrospect.”
Paul Theroux

Já não é a primeira vez que cito esta frase que desmistifica o encantamento de viajar.


Mas nunca, como nesta viagem à Índia, tive a nítida e sempre presente sensação de que só iria conseguir desfrutar de toda a experiência depois de regressar a casa.


Numa viagem em que tudo correu como previsto, continuo sem perceber porque é que não consigo ver-me livre do sentimento de incómodo. Foi tudo tão intenso e difícil que o negativo acabou por se sobrepôr ao positivo.

Um mês depois do regresso, está na hora de começar a desfiar o novelo da Índia, puxando o fio do encantamento, desembaraçando-o do emaranhado de tantos outros fios que ainda não consigo definir.

Vejamos até que ponto Paul Theroux tem razão…...

Foto de Muhipiti: Chandni Chowk, New Delhi. Índia, 2010 

sábado, 20 de novembro de 2010

Chalthe hai !!

अलविदा भारत. हम वापस आ जाएगा
NAMASTE!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Goa

Banhos, massagens e boa comida.
Porque nós merecemos!!!!!!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Goa

Abençoado seja quem fez o descanso....!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mumbai - Goa

Dizem que Goa nada tem a ver com a India.

Visitando Panji - a capital do estado - começamos a contagem decrescente para o regresso a Lisboa. :(

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bollywood

Palavras, para quê?.....

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Varanasi – Mumbai

Depois de uma manhã relaxante em Varanasi, aterraremos na caótica Mumbai – a Nova Iorque da Ásia.
Disse-me um natural da antiga Bombaim que cada dia aqui equivale a 2 ou 3 dias numa capital europeia….
Não faz, desta vez, vimos só mesmo espreitar.

domingo, 14 de novembro de 2010

Varanasi

Um dia para sentir Varanasi: amanhecer no Ganges, as abluções nos ghats, os templos hindus.

sábado, 13 de novembro de 2010

Khajuraho – Varanasi

De manhã, continuaremos a explorar os templos de Khajuraho, famosos pelas suas esculturas eróticas e declarados 'world heritage' pela UNESCO.

Chegamos a Varanasi a tempo de participar na cerimónia arati no Rio Ganges.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Agra – Orchha – Khajuraho

Partimos de Agra, de comboio, até Jhansi.
A caminho de Khajuraho, visitaremos o forte da pequena cidade de Orchha.
À noite, disfrutaremos de um Light and Sound Show, no qual ficaremos a conhecer a história dos lendários templos de Khajuraho, pela voz hipnotizante do não menos lendário actor Amitabh Bachchan.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Taj Mahal

Para Gabix e Tiaguinho
Vasco da Gama chegou à India
Vasco da Gama chegou à India
Enfrentando tempestades
Descobriu novas cidades
Lá no país do Taj Mahal
Monumento mundial
.........
(canção infantil)

E nós chegaremos hoje a Agra.

Parece ser consensual que Agra é a cidade mais feia de toda a Índia. Não fora o Monumento ao Amor e ninguém poria aqui os pés.

Vamos descobrir se é caso para se dizer “Se taz mahal, muda-te”!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Rathambore - Fatehpur Sikri – Agra

Mais um safari, antes de partirmos. E mais tigres, claro!!

A caminho de Agra, paramos para visitar Fatehpur Sikri - a capital de Akbar, o emperador Mugal. Veremos se é tão bonita como no filme.... lol

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Rathambore

Um dia de relax entre safaris.

E vamos ver tigres ..... muitos tigres ...... imensos tigres!!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Jaipur - Rathambore

Vamos tentar subir de elefante até ao forte de Amer, na cidade cor-de-rosa de Jaipur.

Aqui termina a 1ª etapa da viagem: diremos adeus ao Rajastão, a caminho de Ranthambore.

domingo, 7 de novembro de 2010

Pushkar – Jaipur

De manhã visitaremos o Templo Brahma de Pushkar e outros locais sagrados para os Hindus.
À tarde, já em Jaipur, poderemos relaxar e passearmo-nos pelos bazares.

sábado, 6 de novembro de 2010

Udaipur – Deogarh – Pushkar

Vamos sentir o que é viajar de comboio na India, fazendo um pequeno trajecto rural.
Almoçaremos com o Maharaja do Deogarh Mahal e à tardinha chegaremos a Pushkar.


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Udaipur

Hoje é para madrugar, pois espera-nos um passeio de balão sobre as ruas da cidade branca e o plácido lago Pichola.

Á tarde, vamos às compras!!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Jodhpur – Ranakpur – Udaipur

A caminho de Udaipur, visitaremos os templos Jain de Ranakpur.
À noite, disfrutaremos de um passeio de barco pelo lago Pichola.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Bikaner – Jodhpur

Situada na orla ocidental do deserto de Thar, Jodhpur – a cidade azul – é a porta de entrada para um mundo maravilhoso de dunas de areias e árvores espinhosas.
Visitaremos o altaneiro Meherangarh Fort e outras maravilhas arquitectónicas.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Bikaner

O ponto alto deste dia é a visita ao Templo de Karni Mata, onde milhares de ratinhos se passeiam livremente.
Conseguiremos superar esta etapa?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De Delhi a Mandawa

257 Km separam as duas cidades. Começa o tour do Rajastão.
Depois de um (possível) passeio de camelo ao pôr-do-sol, dormiremos como verdadeiras maharanis.

domingo, 31 de outubro de 2010

Velha Delhi

Eis o que o programa da Max Holidays nos reserva para hoje:

"Today after relaxed breakfast at hotel, enjoy guided sightseeing tour of Old Delhi visit Red Fort  - Built in 1648 AD by  Emperor Shah Jahan, famous for its delicately royal chambers, Jama Masjid - Completed in 1658 , the mosque of Shah Jahan’s capital city is the largest in India. Later enjoy sightseeing of Moon Square - Chandni Chowk, believed to be the market place of Mughal period. Your tour also includes drive through Indian Gate (the War monument) and the Presidential Palace. Evening you are free for personal activities. Evening return back to Hotel for overnight stay at Delhi."

sábado, 30 de outubro de 2010

Nova Delhi

Está previsto chegarmos às 3h da manhã e às 10h já estarmos a pé e frescas para as primeira impressões de New Delhi. Visitaremos a torre Qutab Minar de 73 metros de altura, a Humayun's tomb , o Raj Ghat, onde foi cremado Mahatma Gandhi.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Passagem para a India!

E lá vamos nós, para a tão esperada viagem à India!

Depois de meses de ansiedade, e de uma noite mal dormida (é sempre assim antes de uma viagem) chegou a hora de torcer para que tudo corra bem e, especialmente, para que as nossas malas não se percam pelo longo caminho de Lisboa a Delhi, via Madrid e Doha.

Que Ganesha nos acompanhe!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Escrever...



"Better to write for yourself and have no public, than to write for the public and have no self"


    quarta-feira, 27 de outubro de 2010

    Este lugar não é para novos

    Munique. Cervejaria Hofbräuhaus. Noite.

    Mãe e filha hesitam à porta. Devem fugir da confusão que se adivinha lá dentro ou mergulhar de cabeça? Afinal, esta foi-lhes recomendada como a melhor bierhouse da cidade….
    Valentes descendentes da padeira de Aljubarrota, decidem entrar. O ambiente é o que se espera de um local como este: barulhento, apinhado de turistas, caótico, irresistível.
    As mesas são compridas e cada uma está com lotação esgotada. Uma é das que estão reservadas, desde o fim da guerra, para o mesmo grupo de homens (hoje já de barbas brancas), que diariamente se vestem a rigor para virem beber a cervejinha.
    Os empregados andam por ali num corrupio. Trajados como manda a tradição da Baviera (tracht), carregam bandejas cheias de canecas de cerveja ou vendem pretzel gigantes.
    E há uma banda, claro! Tocam canções folclóricas cujos acordes se misturam com as conversas e as gargalhadas e o som de vidro a bater, compondo uma sinfonia original.
    Centenas de clientes embalam as suas canecas XL ao som da música, antes de engolirem a cerveja mais depressa do que recomendaria a prudência. Balançam-se para a direita e para a esquerda, com mais ou menos vigor, dependendo do grau de bebedeira.
    Mãe e filha tentam abrir caminho no meio deste mini Oktoberfest e, num sítio mais recatado do estabelecimento lá descobrem uma mesa. Está parcialmente ocupada por três senhoras distintas que sorriem alegremente umas para as outras nos intervalos dos goles de cerveja.
    Mãe e filha ajeitam-se no canto oposto e pedem as inevitáveis salsichas e uma caneca de cerveja; daquelas em que se tem de mergulhar o nariz para se chegar ao último quarto de litro.
    Ambas tentam absorver a atmosfera e secretamente desejam que houvesse companhia mais animada deste lado da sala, para também elas baloiçarem e brindarem. O seu desejo quase se realiza quando um grupo de rapazes e raparigas jovens se aproxima e tenta sentar-se nos lugares ainda vagos da mesa. Mas são logo enxotados pelo empregado sisudo, que gesticula e aponta para um grande letreiro suspenso por cima da mesa. E só então mãe e filha reparam no que lá está escrito: “Reservado a velhotes”!!


    Texto e Foto: Rutix
    Com a graciosa colaboração de Lucilix

    segunda-feira, 25 de outubro de 2010

    Botifarronas


    - Mas isso lá são férias?! Sempre com as botifarronas calçadas!!
    É o comentário da minha tia, ao ver as fotos que tirei no Peru.
    Tenho de me rir. Gosto da maneira como o seu sotaque alentejano dá vida ao “botifarronas”…
    Quanto ao resto também tem razão. A subida ao Machu Pichu, percorrendo a pé o caminho Inca até à antiga capital do império, subindo e descendo enormes degraus seculares, acampando a 4 mil metros de altitude, sofrendo com os frios glaciares nocturnos e com o calor abrasador do dia, não correspondem à ideia tradicional de férias.
    O caminho é longo, tortuoso e serpenteia rente à montanha; poucos metros nos separam do abismo invisível.
    Em altitude, o ar rarefeito quase nos corta a respiração. Mas não tanto quanto a visão das colossais paisagens que nos rodeiam. Montanhas cobertas de vegetação verde e espessa, cascatas sorrateiras, ruínas perfeitamente construídas em locais que julgaríamos de acesso impossível.
    A tenda é fria e desconfortável, mas quando saio cá para fora e vejo uma lua enorme, ali quase ao alcance de um toque, envolvendo as ruínas incas de uma luz espectral, não a trocaria por qualquer cama de hotel. E nenhum room service do mundo me saberia tão bem ao fim de 6 horas de marcha quanto o chá quente e as pipocas acabadas de fazer que os carregadores quechua me oferecem à entrada da tenda.
    Os músculos latejam, os pés têm bolhas e os joelhos ferrugem, mas nunca me senti tão viva e tão em forma como quando, ao fim do quarto dia de marcha, pude contemplar, finalmente, o Machu Pichu.

    Foto: RCC. Peru, 2008

    sábado, 23 de outubro de 2010

    Everybody is happy in Zanzibar!!

    E chego finalmente ao último post sobre a Tanzânia. Mais uma história. Mais um momento…. O mais alto de uma viagem cheia de pontos altos. O mais difícil de descrever por ter sido o melhor, o mais espontâneo e o mais autêntico.
    Por isso, segurem-se que este vai ser longo….!


    A noite começou com o convite do dono do resort para irmos à aldeia próxima assistir aos festejos do final do Ramadão. Ainda hesitámos, divididas entre a curiosidade e a apreensão face ao que iríamos encontrar. Ole seria o nosso guia e protector.
    Partimos a pé pela estrada poeirenta e de piso irregular. Os outros maasai do resort acompanham-nos durante parte do caminho. A lua está de tal maneira luminosa que faria inveja a qualquer candeeiro e não temos dificuldade em ver onde pomos os pés. Caminhamos sem pressa. O tempo está ameno e temos 2 Km pela frente. Vamo-nos cruzando com grupos de pessoas que regressam da festa. É um espectáculo estranho, este que protagonizamos: 4 mzungus caminhando na estrada, escoltadas por guerreiros. ML pergunta-me:
    - Esta é a melhor parte da viagem, não é Rutix? Vais ter muito que escrever…!
    De facto, penso, para escrever é preciso viver….
    Os outros maasai depressa se cansam do nosso ritmo lento e, apressando o passo desaparecem na noite. Na orla da vila fazemos um desvio e entramos no recinto da feira, depois de termos pago 1,000 shellings cada uma e recebido em troca uma carimbadela na mão. Vamos caminhando lentamente por entre os jovens que dançam, namoram, fumam, conversam, bebem e olham para nós com curiosidade. Na pista de dança, Ole explica que a música que ouvimos é taraban, típica de Zanzibar. É difícil não deixar o corpo mover-se ao som deste ritmo africano com matizes asiáticas. Fazemos uma roda e ensaiamos uns passos de dança. Ás tantas, reparo na presença de alguém que se movimenta atrás de mim.
    - Tens uma sombra, troça ML.
    Pois…. 
    Luto entre a vontade de me virar e dançar como deve ser e o sinal errado que isso poderia transmitir. Mesmo assim, tento virar-me, mas a sombra acompanha o meu movimento de maneira que nunca lhe consigo ver a cara. E, assim, continuamos a dançar, sob o olhar atento do nosso guarda-costas e o sorriso matreiro das minhas companheiras.
    Terminada a música vamos até ao bar. A sombra segue-me e apresenta-se. Um nome tão impronunciável para mim como o meu o foi para ele. Num inglês alcoolizado diz “we danced together just now”. Bom, “together” não seria o termo que usaria, mas … 
    Deixamos o bar e descemos as escadas de madeira que levam à praia. O reflexo da lua na água turquesa e nas areias finas proporciona uma luminosidade leitosa e mística. Sinto-me em estado de graça!
    Muhipiti sugere que tiremos uma foto. Como não trouxemos máquina a única opção é o fotógrafo local que de uma cabana gasta criou um estúdio improvisado. Entramos e tiramos duas fotos com o nosso jovem maasai, contra cenários de uma piroseira antiquada. Bizarro, mas muito divertido!


    Voltamos à praia e sentamo-nos na areia, ao pé do mar. Os acordes da discoteca chegam até nós e há casais que dançam; o rapaz movendo-se nas costas da rapariga. Ah!... Então é assim que se dança por estas paragens!!!...
    O ambiente é mágico e descontraído e faz-me recordar as palavras de Abraham no dia da nossa chegada: “Everybody is happy in Zanzibar!
    Debatemos se ficamos mais um pouco ou se está na hora de quebrar o encantamento e regressar. Passa da meia-noite, mas a atmosfera é irresistível e não estamos ansiosas por percorrer a pé os 2 Km que nos separam do resort.
    Resignadas, abandonamos o recinto ao som das músicas de DJ Snake, jovem que Ole nos garante ser muito famoso neste cantinho do mundo. 
    Fazemo-nos à estrada. Não andamos mais de 10 metros até ouvirmos barulho de motor atrás de nós. 
    - It´s a truck. Not good for us, diz Ole.
    De facto, trata-se de uma carrinha de caixa aberta. Antes de Ole ter tempo de mandar avançar o condutor já ML pôs o pé no pneu e subiu para a caixa. Subimos todas, seguidas por um incrédulo Ole. Foi o melhor trajecto da minha vida! Tal como Elsa Martinelli em Hatari …. mas sem as quedas….! Seguramo-nos os 5 à grelha da cabine e lá seguimos com a brisa amena da noite acariciando os nossos rostos sorridentes. Olho para Ole e pergunto-me o que pensará destas 4 portuguesas loucas e já com boa idade para terem juízo…. Impagável é também a expressão no rosto dos guardas maasai quando abrem o portão do resort e nos vêem descer do camião!
    Despedimo-nos de Ole e, quando nos dirigimos para a nossa villa, o gerador estoira e a lua foi a única testemunha do nosso mergulho nocturno na piscina privada.
    Everybody is happy in Zanzibar!!!!

    sexta-feira, 22 de outubro de 2010

    O maasai tranquilo


    Se alguma vez me tivessem dito que iria conversar no chat do Facebook com um autêntico maasai, de certeza que teria rido ou, pelo menos, esboçado um sorriso incrédulo.
    E, no entanto….
    Ole Mapashihaki era o guest relations do resort onde passámos os últimos dias de férias em Zanzibar. Lembro-me de ter achado bastante pitoresco o sermos recebidas na praia por este jovem muito alto e esguio, de sorriso bonacheirão, que envergava as vestes e os adornos guerreiros de uma tribo maasai. Á medida que o fui conhecendo apercebi-me de que, apesar de ter muito orgulho nas tradições da sua tribo, Ole não tem alma de guerreiro. O seu sonho é ser ranger num dos parques da Tanzânia.
    Certa tarde, encontrou-me no pontão, onde me refugiava do sol escaldante mergulhando no vício da escrita. Tivemos, então, oportunidade de falar durante umas horas, à medida que a maré, esmeralda e cristalina, ia subindo e o sol se aproximava do ocaso.
    Pergunta-me o que escrevo e quando lhe digo que é o diário da viagem quer saber se escreveria sobre ele. Aproveito a deixa para lhe fazer imensas perguntas a que ele vai respondendo num inglês pouco articulado mas bastante compreensível. Descobri que nasceu em Arusha, que tem 5 irmãos (dois rapazes e três raparigas) e que nunca saíra da Tanzânia. Pergunto-lhe se o cabelo comprido, que ostenta quase até aos calcanhares, é natural. Abana a cabeça e diz, pesaroso, que teve de o cortar porque a isso o obrigaram as regras rigorosas do colégio que frequentou.



    Na noite anterior, Ole e os seus companheiros maasai (que zelam pela segurança do resort) tinham-nos brindado com um espectáculo de danças alegóricas. Aproveito agora para lhe perguntar o significado do que víramos. Na primeira dança, um homem matou um leão e começou a saltar para comemorar o seu domínio sobre o rei da selva. Os outros homens, ao ouvirem o relato de tais feitos, sentem inveja e tentam imitá-lo, competindo entre si pelo salto mais alto. A segunda dança representava um ritual de cortejamento. Os homens tentam atrair as mulheres fazendo rodopiar as suas longas cabeleiras como ventoinhas. Por sua vez, as mulheres tentam impressioná-los abanando os ombros e chocalhando os colares que levam ao pescoço.
    Durante o interrogatório a que o submeti naquela tarde não pude deixar de reparar que Ole se continha para não me fazer perguntas também. Mais tarde, já através do Facebook, confessou-me que só não o fez porque eu era uma hóspede. Agora que éramos amigos já podia satisfazer a curiosidade. Nos meses que se seguiram ao meu regresso de férias fomos “chateando” com frequência, ainda que com alguma gaguez provocada pelas limitações de uma internet insular, alimentada por fracos geradores. Ultimamente não o tenho encontrado no pontão virtual e gosto de imaginar que está a conduzir turistas pelos trilhos de Ngorongoro.


    Foto 1: Muhipiti. Zanzibar, 2009.

    quinta-feira, 9 de setembro de 2010

    Suleman


    “This is Suleman. He will be our monkey for today”, diz Abraham, apontando para um rapaz alto, magro, de pele escura e brilhante.
    Considerei-o durante alguns segundos, tentando abstrair-me do comentário grosseiro do nosso guia. Era muito jovem (14 anos, soube mais tarde) e vestia jeans brancos e uma t-shirt amarela dos Led Zeppelin.
    Suleman acompanhou-nos durante toda a visita à plantação, sempre num silêncio respeitoso e tímido. A sua função era a de colher espécimes de especiarias e frutos. Colocava-as nas cornucópias que cada uma de nós levava nas mãos em jeito de cesto de compras, e que ele fizera a partir de folhas de bananeira.
    Este pequeno objecto era apenas uma amostra do que as suas jovens mãos conseguiam extrair dos recursos que tinha à volta. Antes de a visita terminar, o seu talento produzira óculos (ramas de ananás), colares (folhas e flores de mandioca), pulseiras, chapéus e ainda os saquinhos onde colocámos as especiarias vendidas na improvisada jungle boutique.
    Calhou ser ele a escoltar-me de volta ao Jeep onde fui buscar mais rebuçados para a pequenada que por ali andava. No regresso, perguntou-me:
    - Quantas línguas falas?
    Respondi-lhe.
    – E tu?, continuei.
    - Inglês, francês, alemão, espanhol, italiano e um bocadinho de holandês, disse orgulhoso.
    - Quem te ensinou isso tudo?!!
    - Os turistas.
    - E, não vais à escola?
    Encolhe os ombros:
    - Hoje não há….
    No fim da visita, cabe-lhe a ele cortar os bocadinhos de fruta que nos dão a provar. Com um olhar de desafio, Sule apresenta cada fruta nova numa língua diferente. Vou-lhe respondendo “muito bem” na língua apropriada e, de repente, é como se estivesse de volta a casa a ensinar a minha sobrinha.


    Estou sozinha à espera que o resto das meninas acabe as compras.
    Sule senta-se ao meu lado e, continuando ocupado a tecer uma folha de bananeira, pergunta, baixinho:
    - Mama, siete contenta?
    A pergunta deixa-me desconcertada. Em suaíli a palavra “mama” significa senhora e não mãe, mas foi dita com um tal carinho, que me emocionei.
    De facto, este rapaz poderia bem ser meu filho...

    Zanzibar, 2009

    terça-feira, 7 de setembro de 2010

    Mzungu, sou eu!


    A menina abre a porta e, ao ver-nos passar, lança um grito de alarme e de espanto.

    - Mzungu! Mzungu!

    Não tem mais de três anos, usa um vestido com folhos e está visivelmente excitada. Aponta para nós, de olhos muito abertos, como se estivesse a ver extra -terrestres.
    E nós, claro, rimos deliciadas com a ternura da cena.
    A mãe acode ao chamamento, aflita, mas a sua expressão suaviza-se ao ver-nos. Com um sorriso tranquilo e divertido, pega na filha ao colo e aproxima-se de nós, aceitando os rebuçados que lhe damos.
    Não é a primeira vez que por aqui se referem a nós desta maneira. Sabemos que mzungu significa “pessoa branca” em suhaili.
    O que eu desconhecia era a origem da palavra. Descobri-a há dias na internet.
    A palavra mzungu tem raiz no verbo zunguka, que significa "rodar, girar, andar por todo o lado".
    Não fiquei surpreendida por aprender que a palavra foi originalmente aplicada aos portugueses, pois então!! Foram dos primeiros estrangeiros brancos a pisar Zanzibar, e … fartavam-se de girar por todo o lado.

    Parece que a menina acertou duplamente ao chamar-nos mzungus!!


    Foto: Muhipiti. Zanzibar, 2009

    sexta-feira, 3 de setembro de 2010

    Abraham no Pais das Especiarias


    Fomos descobrir porque é que Zanzibar é conhecida como a “Spice Island”.

    A 20 Km de Stone Town, ao fundo de uma estrada de terra batida, fica a plantação que vamos visitar. Altos coqueiros e bananeiras centenárias fornecem sombra a plantas e árvores de todas as espécies e a cabanas de adobe, à volta das quais algumas galinhas debicam o chão vermelho.

    Connosco está Abraham, o nosso guia desde a chegada. Tem 37 anos e é com orgulho que tem escoltado estas quatro beldades (ainda que seja eu a dizê-lo) pela sua ilha. Creio que se sente um dos sultões polígamos que por vários séculos governaram Zanzibar.
    É simpático, mas tem um sentido de humor um pouco … digamos …. apatetado. Já nos temos fartado de rir com algumas das suas tiradas. Lembro-me, por exemplo, de me ter dito que gostava de casar-se com uma mulher branca, mas que a mãe não aprovaria, pois as brancas são muito refilonas…. Ou daquela vez que depois de nos ter perguntado a que horas queríamos começar a excursão do dia seguinte e de termos respondido que às 10, afirmou que tínhamos mesmo de sair às 9h ou não teríamos tempo de ver tudo!!!....
    Mas, hoje Abraham está muito concentrado no seu papel de professor. Diz que vai testar os nossos conhecimentos sobre o mundo vegetal que nos rodeia.
    - What is this plant?, pergunta, apelando à nossa visão, tacto e olfacto.
    Todas nós já visitámos plantações semelhantes a esta noutras partes do mundo e saímo-nos na perfeição no que toca à baunilha, pimenta, café, noz-moscada, anis, mandioca, gengibre, jaca e citronella.
    No entanto, há espécies que nunca víramos, como as árvores do quinino e do iodo ou a planta de cujo pó as zanzibaritas extraem o baton. Também desconhecíamos (pelo menos eu) que o cravinho nasce numa árvore; que da árvore da canela se extrai a essência do Vick vapour rub (lembram-se?), e que os vários tipos de pimenta se obtêm a partir do mesmo bago.
    O corpo já roliço do nosso sultão ficou ainda mais inchado quando lhe pedimos para repetir a explicação para que o pudéssemos filmar. Com uma jaca na mão, em jeito de microfone, e lançando olhares furtivos aos outros guias que o observavam trocistas, Abraham lá foi debitando:
    “A pimenta fica verde se o bago for seco à sombra e preta se seco ao sol. A pimenta branca resulta de um bago demolhado, pelado e seco à sombra e a vermelha de um bago demolhado e seco ao sol.”
    Para o fim, como pièce de résistance, ficou a subida ao coqueiro. Um rapaz com cerca de 18 anos começa a subir com a ajuda de apenas uma corda onde apoia os pés. O resto é pura força muscular, paixão e anos de prática. Os miúdos começam a subir aos coqueiros desde os 4 anos e param aos 25, idade a partir da qual se torna mais difícil sarar as fracturas frequentes.
    Abraham parece um pouco perturbado com o nosso entusiasmo perante tal espectáculo (que já chegou ao Youtube).
    - Oh, he is just showing-off… - murmura, amuado, enquanto a voz do rapaz faz ecoar pela selva de especiarias a tradicional canção “Jambo Bwana”.


    Fotos: MLee e Muhipiti. Zanzibar, 2009

    quinta-feira, 19 de agosto de 2010

    Adivinhem quanto custa o jantar...!

    Há um considerável distanciamento entre os momentos que vivemos em viagem e o que deles recordamos mais tarde.

    Houve um jantar em Stone Town a que sempre nos referimos, na brincadeira, como "aquele em que fomos valentemente “roubadas”". A pedido de algumas senhoras, resolvi escrever sobre isso.
    O texto original começava assim:
    “Quando Fisherman George nos apresentou a conta ficámos abismadas. Tão caro?!!”

    Tinha ficado com a ideia de que consumíramos apenas duas espetadas e uma coca-cola entre as quatro e que pagáramos por isso o nosso peso em ouro.

    Assim, preparava-me para demonstrar que não tínhamos pago apenas o jantar, mas todo o ambiente em que a refeição decorrera …. e que isso não tinha preço.

    A ideia era descrever a atmosfera que se vivia nessa noite nos Forodhani Gardens: o céu estrelado e a lua cheia; as bancadas de comida no centro do jardim, iluminadas apenas por candeeiros a petróleo; os homens, mulheres e crianças de vestes domingueiras, comendo em pratos de plástico, sentados em mantas; o ambiente de Pic nic nocturno em relvados impecavelmente tratados, sem que se visse lixo no chão.
    Depois descreveria o pitoresco Fisherman George que nos cativou para a sua banca, apregoando: “Come sister, you eat now, you pay later” e a forma principesca como os seus empregados nos escoltaram para um local tranquilo e nos iam servindo solicitamente.
    Por fim falaria da conversa que tive com um zanzibarita enorme, de jalaba branca e cofió dourado, que me explicou que Portugal em swahili se diz Ureno (literalmente “o reino”, já que os primeiros portugueses aqui chegados diziam que vinham do Reino de Portugal).

    Bom! Tudo isto para justificar os TZN 52,000.00 que acabámos por pagar.

    Foi então que, para que o registo ficasse completo, pedi a PL que me fornecesse a ementa dessa noite. E fiquei desolada! Afinal o jantar não tinha sido tão parco quanto me lembrava e senti a minha teoria da “compensação” a ir por água abaixo.

    Pois, julgue o leitor, sabendo que o equivalente em euros daquele número astronómico é … 27.

    Ementa:
    2 bocas de sapateira
    1 espetada de 4 camarões
    1 espetada de lombo de lagosta simples
    1 espetada de lombo de lagosta tikka massala
    1 pratinho de batata frita + 2 de oferta a um grupo de crianças
    1 nan com côco
    1 nan com alho
    1 coca-cola pequena
    1 água 30cl
    1 copo pequeno cana açúcar


    Foto: MLee e Muhipiti. Stone Town, Zanzibar. 2009