Se alguma vez me tivessem dito que iria conversar no chat do Facebook com um autêntico maasai, de certeza que teria rido ou, pelo menos, esboçado um sorriso incrédulo.
E, no entanto….
Ole Mapashihaki era o guest relations do resort onde passámos os últimos dias de férias em Zanzibar. Lembro-me de ter achado bastante pitoresco o sermos recebidas na praia por este jovem muito alto e esguio, de sorriso bonacheirão, que envergava as vestes e os adornos guerreiros de uma tribo maasai. Á medida que o fui conhecendo apercebi-me de que, apesar de ter muito orgulho nas tradições da sua tribo, Ole não tem alma de guerreiro. O seu sonho é ser ranger num dos parques da Tanzânia.
Certa tarde, encontrou-me no pontão, onde me refugiava do sol escaldante mergulhando no vício da escrita. Tivemos, então, oportunidade de falar durante umas horas, à medida que a maré, esmeralda e cristalina, ia subindo e o sol se aproximava do ocaso.
Pergunta-me o que escrevo e quando lhe digo que é o diário da viagem quer saber se escreveria sobre ele. Aproveito a deixa para lhe fazer imensas perguntas a que ele vai respondendo num inglês pouco articulado mas bastante compreensível. Descobri que nasceu em Arusha, que tem 5 irmãos (dois rapazes e três raparigas) e que nunca saíra da Tanzânia. Pergunto-lhe se o cabelo comprido, que ostenta quase até aos calcanhares, é natural. Abana a cabeça e diz, pesaroso, que teve de o cortar porque a isso o obrigaram as regras rigorosas do colégio que frequentou.
Na noite anterior, Ole e os seus companheiros maasai (que zelam pela segurança do resort) tinham-nos brindado com um espectáculo de danças alegóricas. Aproveito agora para lhe perguntar o significado do que víramos. Na primeira dança, um homem matou um leão e começou a saltar para comemorar o seu domínio sobre o rei da selva. Os outros homens, ao ouvirem o relato de tais feitos, sentem inveja e tentam imitá-lo, competindo entre si pelo salto mais alto. A segunda dança representava um ritual de cortejamento. Os homens tentam atrair as mulheres fazendo rodopiar as suas longas cabeleiras como ventoinhas. Por sua vez, as mulheres tentam impressioná-los abanando os ombros e chocalhando os colares que levam ao pescoço.
Durante o interrogatório a que o submeti naquela tarde não pude deixar de reparar que Ole se continha para não me fazer perguntas também. Mais tarde, já através do Facebook, confessou-me que só não o fez porque eu era uma hóspede. Agora que éramos amigos já podia satisfazer a curiosidade. Nos meses que se seguiram ao meu regresso de férias fomos “chateando” com frequência, ainda que com alguma gaguez provocada pelas limitações de uma internet insular, alimentada por fracos geradores. Ultimamente não o tenho encontrado no pontão virtual e gosto de imaginar que está a conduzir turistas pelos trilhos de Ngorongoro.
Foto 1: Muhipiti. Zanzibar, 2009.
Foto 1: Muhipiti. Zanzibar, 2009.
Oi TIA!!!
ResponderEliminarQue BOM recordar...
A vida é cheia de SURPRESAS sobre NÓS próprios...
Jinhos
Muhipiti